terça-feira, 22 de abril de 2008

As Cartas de João


A segunda e a terceira epístolas de João apresentam as características de uma carta. Elas incluem o título do remetente, os destinatários, as saudações iniciais, a mensagem pessoal e as saudações finais. Apesar de não terem informações quanto a local e data, essas cartas atribuídas a João são comparáveis, em termos de forma, às epístolas escritas por Paulo ou Pedro.
A Primeira Epístola de João, porém, é diferente. É desprovida do nome do remetente e dos destinatários, de saudações e bênção e de lugar de origem e destino. Essa epístola poderia ser chamada de tratado teológico. Entretanto, essa designação não é completamente apropriada, pois, do começo ao fim, a carta mostra o toque pessoal do autor. Ele se dirige aos leitores chamando-os de "amados" e "filhinhos" e usa os pronomes pessoais nós e eu. O tom desse documento, sem dúvida, indica ser esta uma carta - e não um tratado - de um autor respeitado e reverenciado pelos destinatários, que o conheciam bem.

A. Quem Escreveu as Epístolas?

1. Evidência externa
O que dizem os escritores dos séculos II e III sobre as epístolas de João? Policarpo que, de acordo com relatos, era discípulo de João, escreveu uma carta para a igreja de Filipos aproximadamente no ano 100 d.C. A semelhança é claramente visível nestas referências específicas:

Filipenses de Policarpo 7.1
"Pois todos aqueles que não confessarem que Jesus Cristo veio em carne são do anticristo; e qualquer um que não confessar o testemunho da Cruz, esse pertence ao diabo”.

1 João 4.2,3
“É assim que vocês podem reconhecer o Espírito de Deus: Todo espírito que reconhece que Jesus Cristo veio em carne é de Deus, mas todo espírito que não reconhece Jesus não é de Deus. Esse é o espírito do anticristo” [ver 3.8].

Depois disso, Papias, que era bispo de Hierápolis (perto de Laodicéia) por volta de 125 d.C., usou citações da Primeira Epístola de João. Irineu, que foi bispo de Lyon e Vienne, no sul da França, por volta de 185 d.C, nos diz que Papias era "ouvinte de João [e] um companheiro de Policarpo". Podemos nos basear, portanto, nas vozes de testemunhas que conheceram João pessoalmente. No começo do século II, esses dois discípulos de João usaram sua primeira epístola e, de maneira implícita, servem de confirmação para sua autenticidade. Se essa epístola não fosse originária de João, eles poderiam ter divulgado esse fato.
Perto do final do século II, Irineu não apenas citou textos da epístola, mas também a atribuiu a João, o discípulo do Senhor. Depois disso, o Cânon Muratoriano, que supostamente originou-se por volta de 175 d.C., declara: "De fato, a Epístola de Judas e duas das Epístolas de João, acima mencionadas, são aceitas na Igreja católica". Pelo fato do original em latim ser um tanto impreciso, os estudiosos têm encontrado dificuldade em determinar o significado exato dessa declaração.
No século III, alguns autores usavam com frequência a Epístola de João e testificavam que a mesma pertencia a João. São eles: Clemente de Alexandria, Orígenes, Tertuliano e Dionísio, discípulo de Orígenes.
Que evidências externas há para a segunda e terceira epístolas de João? Devido à sua brevidade e importância relativamente pequena no contexto do Novo Testamento, não nos surpreende que as evidências sejam um tanto escassas. Na verdade, ficamos admirados que, pela providência de Deus, essas epístolas curtas ainda existam e façam parte do cânon.
Irineu, que era discípulo de Policarpo, tanto cita a Segunda Epístola (vs. 10,11) quanto menciona o nome do apóstolo João. Em seu discurso contra os marcosianos, ele escreve: "E João, discípulo do Senhor, intensificou suas condenações ao desejar que nós nem sequer nos dirijamos a eles dizendo 'adeus' pois, de acordo com ele, aquele que diz adeus é co-participante de seus atos perversos". Em outra parte de seus escritos, ele cita os versículos 7 e 8 da Segunda Epístola, atribuindo-os ao discípulo do Senhor, isto é, João.
No século III, Clemente de Alexandria mostra estar familiarizado um a segunda epístola, pois se refere à "epístola mais longa" de Joao. Dionísio, outro alexandrino daquele século, discute a autoria das epístolas de João e diz: "Não, nem mesmo na segunda e na terceira epístolas de João, ainda que estas sejam breves, apresenta-se o nome de João". Orígenes observa que está familiarizado com as duas epístolas mais curtas e acrescenta: "nem todos dizem que estas são autênticas". Também Eusébio, um século mais tarde, coloca a segunda e terceira epístolas entre os livros considerados controversos. Porém, mais para o fim daquele século, os concílios de Hipona Régio (393) e Cartago (397) reconheceram a canonicidade das epístolas de João.

2. Evidência interna
É impressionante a semelhança entre o Evangelho de João e as epístolas quanto aos paralelos verbais e a escolha de palavras. Primeiro, tomamos alguns exemplos da Primeira Epístola de João e de seu Evangelho:

Primeira Epístola:
Nós lhes escrevemos para tornar completa nossa alegria [1.4]
Contudo, aquele que odeia seu irmão está na escuridão e anda de lá para cá na escuridão; ele não sabe onde está indo, pois a escuridão o cegou [2.11].
E esse é o seu mandamento: crer no nome de seu Filho, Jesus Cristo, e amar uns aos outros como ele nos ordenou [3.23].
Evangelho:
Pedi, e recebereis, para que a vossa alegria seja completa [16.24]
Ainda por um pouco a luz está convosco. Andai enquanto tendes a luz... e quem anda nas trevas não sabe para onde vai [12.35]
Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros [13.34].

O vocabulário, tanto nas epístolas quanto no Evangelho de João, mostra semelhança inconfundível. Ambos os livros enfatizam os mesmos temas: amor, luz, verdade, testemunho e filiação. A expressão “Filho unigênito” aparece em 1.14,18 [com variações], 3.16 e 1 João 4.9. A palavra grega Parácleto aparece em João 14.16,26; 15.26; 16.7 ("Conselheiro", NIV) e em 1 João 2.1 ("aquele que fala em nossa defesa", NIV).
Tanto a epístola quanto o Evangelho revelam o uso literário de contraste: vida e morte, luz e trevas, verdade e mentira, amor e ódio. A semelhança em estilo e pensamentos é, de fato, impressionante.
Além disso, as três epístolas de João parecem estar relacionadas entre si quanto ao pensamento e a expressão verbal. Referências às outras cartas são feitas nas três epístolas e no Evangelho, de modo que a idéia dos livros terem sido escritos pelo mesmo autor torna-se proeminente. Essa idéia fica ainda mais clara quando consideramos a saudação do "presbítero" na segunda e terceira epístolas:

2 João 1
O presbítero, à senhora escolhi¬da e seus filhos, os quais eu amo em verdade.

3 João 1
O presbítero, ao meu querido amigo Gaio, a quem amo em verdade.

2 João 12
Tenho muito o que lhes escrever, mas não quero usar papel e tinta. Antes, espero visitá-los e conversar com vocês face a face, para que nossa alegria seja completa.

3 João 13,14
Tenho muito a escrever para você, mas não quero fazê-lo com pena e tinta. Espero vê-lo em breve e conversaremos face a face.

Tendo em vista que a extensão e o formato dessas duas epístolas são os mesmos, parece inegável a autoria comum. Além do mais, o escritor das epístolas não fala simplesmente como um líder da igreja local conhecido como "presbítero". Em sua introdução, refere-se a si mesmo como "o presbítero". João indica que sua influência se estende além das divisas locais, sendo, portanto, universal. Em resumo, ele escreve com autoridade apostólica.

3. Autoria comum
As três epístolas foram escritas por um único autor? Se nos voltarmos, antes de tudo, para a segunda e terceira epístolas, podemos supor que, por causa da forma, escolha de palavras e estilo, o mais provável é que a mesma pessoa tenha escrito essas cartas. Na verdade, as semelhanças nessas duas epístolas sugerem fortemente que as cartas vieram do punho de um só autor.
Então, se "o presbítero" escreveu 2 e 3 João, poderia a primeira epístola também ter vindo de sua pena? Apesar da brevidade da segunda e terceira epístolas, as semelhanças verbais entre elas e 1 João e o Evangelho são claramente reconhecíveis. Além das semelhanças, porém, as diferenças também são proeminentes. O autor se identifica nas duas últimas epístolas, mas não na primeira. O autor menciona os destinatários de 2 e 3 João, mesmo não sendo estes de nosso conhecimento. Ele não menciona os destinatários de sua primeira epís¬ola, apesar de dirigir-se ternamente a eles como "queridos filhos". As diferenças não são de grande importância, assim, a autoria comum das epístolas de João é provável. A maioria dos estudiosos, de fato, acredita que uma só pessoa escreveu as três epístolas.

4. Dificuldades
Se o autor da primeira e terceira epístolas não é outro senão o apóstolo João, por que ele se refere a si mesmo como "o presbítero"? Ele deveria ter seguido o costume de Paulo e de Pedro e se apresentado como "João, um apóstolo de Jesus Cristo". Em sua primeira epístola, Pedro se autodenomina "apóstolo de Jesus Cristo" (1.1) e se dirige aos presbíteros, dizendo: "aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles" (5.1). Apesar dos contextos serem diferentes no que diz respeito à Primeira Epístola de Pedro e à Segunda e Terceira Epístola de João, o fato é que um apóstolo pode ser um presbítero. O termo presbítero nessas epístolas é praticamente equivalente à expressão apóstolo.
Muitos estudiosos, porém, não estão preparados para igualar os termos presbítero e apóstolo no que se refere às epístolas de João. Para eles, não é provável que o escritor de 2 e 3 João seja o apóstolo João, filho de Zebedeu. Quanto a 3 João, por exemplo, C. H. Dodd questiona a autoridade apostólica do autor. Ele pergunta: "Podemos duvidar que, se ele houvesse tido a dignidade apostólica, ele não teria lançado um desafiador remetente 'João, apóstolo de Jesus Cristo pela vontade Deus' e forçado Diótrefes a calar-se?"
Porém, um comentário bastante conhecido feito por Papias na primeira parte do século II é o cerne da questão. Papias escreveu esse comentário em um dos cinco livros de "Interpretação dos Oráculos do Senhor". Foram preservados apenas fragmentos desses livros; estes foram registrados pelo historiador do século IV, Eusébio. Eis o comentário:

“E não hesitarei em acrescentar às interpretações tudo o que já aprendi dos presbíteros e de que me lembro bem, pois tenho confiança em toda a sua verdade... Mas quando qualquer um aparecia declarando-se seguidor dos presbíteros, eu o interrogava sobre o que André, ou Pedro, ou Filipe, ou Tomé, ou Tiago, ou João, ou Mateus ou qualquer outro dos discípulos do Senhor havia dito e o que Aristion e o presbítero João, discípulos do Senhor, estavam dizendo. Pois supus que informações de livros não me ajudariam tanto quanto as palavras de uma voz vivente e sobrevivente.”

Nessa longa citação, Papias iguala os termos presbíteros e discípulos. Observe que o termo presbítero aparece três vezes e se refere aos discípulos de Jesus, ou seja, os nomes dos discípulos de Jesus encontram-se em aposição e são uma explicação da palavra presbíteros.
Papias, portanto, informa os leitores que obteve informações sobre o Senhor diretamente de seus discípulos. Indica que havia estágios na coleta de informações. Ele usa o tempo passado quando escreve: "eu o interrogava sobre o que André, ou Pedro, ou Filipe, ou Tomé, ou Tiago, ou João, ou Mateus ou qualquer outro dos discípulos do Senhor haviam dito”. Então, quando a maior parte dos discípulos havia falecido, ele perguntava "e o que Aristion e o presbítero João, discípulos do Senhor, estavam dizendo" . Sabemos muito pouco sobre Aristion, mas temos um comentário sobre o fim da vida de João. De acordo com Irineu, o apóstolo João viveu "até o tempo de Trajano". Trajano foi imperador de 98 d.C. a 117 d.C. Concluímos, então, que o apóstolo João era o único discípulo do Senhor que ainda estava vivo no final do século I. Além disso, a nosso ver, pelo comentário de Papias, ele procurava informações de "uma voz vivente e sobrevivente", e não dos livros.
Papias está se referindo a uma pessoa de nome João ou a dois indivíduos? Ele chama João de discípulo e presbítero ou está apresentando o apóstolo João e uma outra pessoa conhecida como João o Presbítero? Eusébio comenta a ambiguidade de Papias:

“É digno de observação, aqui, que ele conta o nome de João duas vezes e relaciona o primeiro João a Pedro, Tiago, Mateus e os outros apóstolos, referindo-se claramente ao evangelista, mas ao mudar sua declaração ele coloca o segundo com os outros que não estão entre os apóstolos, sendo que seu nome vem depois de Aristion e ele é claramente chamado de presbítero. Isso confirma a veracidade do relato daqueles que afirmaram haver dois com o mesmo nome na Ásia, e de que há dois túmulos em Éfeso, os dois de homens chamados João.”

Nesse mesmo contexto, Eusébio chama Papias de "homem de muito pouca inteligência" e faz esse julgamento com base nas opiniões de Papias sobre o milenarismo. Eusébio discorda da opinião de Papias sobre um milénio terreno, durante o qual Cristo governará como rei. Ele é da opinião que Papias adquiriu essas idéias "ao fazer uma leitura equivocada dos relatos apostólicos". Não somos capazes de determinar o nível de inteligência de Papias, pois seus livros não existem mais. Ainda assim, ousamos afirmar que Eusébio é incomumente duro em seu julgamento da capacidade intelectual de Papias à luz das questões doutrinárias.
Se examinarmos a vida de João, veremos que ele desempenhou o papel de discípulo, apóstolo e presbítero. Durante três anos, João havia sido discípulo de Jesus; depois da ascensão de Jesus, ele trabalhou como um dos 12 apóstolos e, na Igreja, tornou-se conhecido como "o presbítero". Pelo fato de João ter vivido mais do que todos os outros apóstolos, ele é mencionado duas vezes. Papias o coloca entre os discípulos de Jesus, cujas vozes foram silenciadas pela morte, e menciona João com Aristion (que não era um discípulo), como a voz sobrevivente que ainda fala de Jesus. Concluímos, portanto, que, apesar da linguagem de Papias ser ambígua, sua intenção é enfatizar que João, discípulo do Senhor e presbítero na igreja, é a única testemunha sobrevivente do Senhor.
Existe qualquer evidência em favor de uma pessoa conhecida como o presbítero João que fosse contemporânea e sucessora de João? No século III, Dionísio de Alexandria tinha ouvido que havia dois túmulos de João em Éfeso. Ao escrever sobre João Marcos, que se separou de Paulo e Barnabé durante a primeira viagem missionária, ele diz: "Mas penso que havia um outro [João] entre aqueles que estavam na Ásia, tendo em vista que se diz haver dois túmulos em Éfeso e que cada um deles é de João".
Dionísio atribui o evangelho e as epístolas a João, o apóstolo, mas é de opinião de que Apocalipse foi escrito por uma outra pessoa com o nome de João. Ele mostra que tem dificuldades em compreender Apocalipse e, portanto, não acredita que João, o filho de Zebedeu, tenha escrito esse livro.
Além disso, Eusébio é completamente contrário à visão milenarista derivada do livro de Apocalipse. Na linguagem de um dos comentários de Papias, ele vê a possibilidade de atribuir o livro de Apocalipse a uma outra pessoa conhecida como João e, assim, menciona a existência do apóstolo João e do presbítero João.
Todavia, nada se sabe sobre o chamado presbítero João, pois até mesmo Polícrates, bispo em Éfeso, próximo do final do século II, nada diz a esse respeito. Numa carta endereçada a um certo Vítor e à igreja de Roma, ele menciona que João, o qual "recostou-se no peito do Senhor", estava enterrado em Éfeso, mas ele não dá informações sobre um segundo túmulo de uma pessoa conhecida como presbítero João. Hesitamos, portanto, em fazer uma distinção entre o apóstolo João e o presbítero João, tendo em vista que as evidências são insuficientes para se fazer uma distinção clara.
Além disso, os argumentos que procuram tornar impossível a autoria comum das três epístolas joaninas não são convincentes. Na verdade, os estudiosos que aderem à idéia de que João, filho de Zebedeu, escreveu as epístolas, podem encontrar base nos escritores da igreja primitiva. Alguns desses escritores eram discípulos de João.

5. Objeções
Alguns estudiosos não estão de modo algum convencidos de que o apóstolo João é o autor do evangelho e das epístolas. Visualizam João cercado por um grupo de discípulos que escreviam por ele. Afirmam que uma escola de escritores foi responsável pela literatura joanina.
De acordo com esses estudiosos, os escritores dessa escola usaram o mesmo vocabulário, forma de expressão e estilo. Além disso, os escritores apresentavam uma teologia em comum, de modo que, em relação às semelhanças e diferenças, todos os seus escritos levavam a marca reveladora de que pertenciam à mesma escola de pensamento, a saber, a escola joanina.
O termo escola joanina se refere à comunidade na qual a literatura de João (especialmente o evangelho e as epístolas) foi escrita. Nessa escola, o apóstolo João tinha a função de líder, de modo que os autores individuais compunham os livros em seu nome.
Essa hipótese, porém, depara-se com algumas objeções. Em primeiro lugar, grupos de escritores normalmente compõem coletâneas de opiniões sobre um determinado assunto e as escrevem na forma de ensaios curtos. Juntam esses ensaios em um livro. Chamamos um livro desse tipo de livro de antologia. Mas o evangelho e as epístolas de João não parecem ser uma coletânea de opiniões organizadas ao redor de um mesmo tema. Pelo contrário, o evangelho - e grande parte da Primeira Epístola de João - apresentam progresso e desenvolvimento, relatos de testemunhas oculares e detalhes pessoais que focalizam a atenção no autor.
Além disso, os proponentes da hipótese da escola joanina precisam demonstrar como os discípulos do apóstolo João compuseram seus escritos que acabaram tornando-se conhecidos como o evangelho e as epístolas de João, ou seja, precisam mostrar que João não poderia ter escrito o evangelho e as epístolas e que esses documentos são de punho dos seus discípulos. Sua hipótese, porém, simplesmente pressupõe que não foi João, mas seus seguidores, que escreveram esse material. Para os estudiosos que ainda não adotaram esse ponto de vista, mas que acreditam que João, filho de Zebedeu, é o autor da literatura joanina, uma simples suposição dificilmente pode ser chamada de evidência convincente.

6. Diferenças
Dodd afirma que são pronunciadas as diferenças entre o Evangelho de João e a primeira epístola. Essas diferenças são, antes de mais nada, linguísticas. Incluem estilo, o uso de certos verbos, a falta de algumas preposições e partículas, um vocabulário simples e um uso limitado do idioma gramatical na primeira epístola.
Além disso, os escritos joaninos demostram diferenças no contexto religioso. Enquanto, por exemplo, o evangelho traz muitas citações do Antigo Testamento, a epístola não tem nenhuma. Os semitismos que são numerosos no quarto evangelho estão claramente ausentes na epístola de João.
Por fim, a ênfase teológica é diferente no evangelho e na primeira epístola. Essas diferenças dizem respeito à escatologia, que, na epístola, é divergente daquela apresentada no evangelho; à interpretação da morte de Cristo, que o autor da epístola realiza de uma forma que não chega a se desenvolver além dos elementos básicos da pregação da mensagem do evangelho; e à doutrina do Espírito Santo, que é proeminente no evangelho, mas não está presente na primeira epístola.
O argumento linguístico de Dodd perdeu força quando um estudo detalhado feito por W. G. Wilson sobre as evidências linguísticas revelou que "no que diz respeito a palavras importantes, há menos variação entre o quarto evangelho e 1 João do que existe entre 1 Coríntios e Filipenses". É extremamente difícil afirmar que dois escritos separados de um determinado autor devem apresentar as mesmas características linguísticas. Também é difícil determinar se dois escritos separados com aspectos linguísticos semelhantes vêm ou não do mesmo autor. As variações em vocabulário e expressões são inevitáveis, especialmente quando um autor se dirige a dois públicos diferentes ou tem em mente dois propósitos distintos.
Assim, num outro estudo, W. F. Howard mostra que a razão das divergências linguísticas "pode ser encontrada, em parte, nas diferenças de assunto, no nível de escrita, na forma como foi composta e como foi ditada; em parte também existe a influência de acontecimentos externos e seu efeito sobre a visão do pastor ou líder cristão sobre quais são as necessidades da igreja".
As diferenças apresentadas por Dodd quanto ao contexto religioso não são relevantes. Muitos estudiosos explicam essas diferenças à luz dos respectivos públicos do evangelho e das epístolas. Os destinatários das epístolas parecem ter sido gentios, cuja familiaridade com o Antigo Testamento não era a mesma dos leitores judeus do evangelho.
Por fim, a ênfase teológica apresentada por Dodd parece ter sido exagerada. Por exemplo, apesar da expressão anticristo aparecer três vezes na primeira epístola (1.18,22; 4.3), mas nenhuma vez no evangelho, um termo joanino parecido - "príncipe deste mundo" aparece em João 12.31; 14.30; 16.11. A interpretação da morte de Cristo é expressa no evangelho como "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (1.29) e em 1 João é o "sacrifício expiatório por nossos pecados, e não apenas pelos nossos, mas pelos pecados do mundo todo" (2.2). Por fim, mesmo que o Espírito Santo e suas obras sejam proeminentes no evangelho, a primeira epístola não é desprovida de referências diretas e indiretas ao Espírito (2.20,27; 4.4; 5.8). Tendo em vista as evidências apresentadas, mesmo que de forma um tanto sucinta, pode-se tirar a conclusão de que dificilmente existem razões adequadas para supor-se que o autor de 1João seja diferente daquele de João, o evangelista.

7. Referências pessoais
Chama a atenção o uso da primeira pessoa do plural no versículo de abertura de 1 João. "Aquilo que era desde o princípio, aquilo que ouvimos, aquilo que vimos com nossos olhos, que contemplamos e que nossas mãos tocaram - é o que proclamamos sobre a Palavra da vida" (1.1). Nos versículos seguintes (vs. 2 a 4), o autor continua a usar a primeira pessoa do plural, nós, para fazer distinção entre si mesmo e seus leitores. Quando ele lança mão desse pronome em versículos subsequentes, ele o faz de modo abrangente, a fim de incluir a si mesmo junto com os leitores. Veja, por exemplo, o versículo que é frequentemente usado em cultos: "Se confessarmos nossos pe¬cados, ele é fiel e justo e irá perdoar nossos pecados e nos purificar de toda injustiça" (1.9).
Nos versículos introdutórios (ver também 4.14), João diz aos seus leitores que é testemunha ocular, que viu Jesus, ouviu sua voz e tocou-o com suas mãos. O uso que faz das palavras nós e nosso deve ser entendido de maneira exclusiva, ou seja, ele está comunicando aos seus leitores que ele e os outros discípulos tiveram a experiência singular de ver e ouvir Jesus, mas que os leitores não tiveram essa oportunidade. Ao invés disso, eles recebem os ensinamentos de Jesus através de um dos discípulos ainda vivos.

Qual é o significado exato do pronome nós em 1.1-4? Eis algumas interpretações:

1. "Nós" é equivalente a "eu", pois o autor usa o plural para indicar sua autoridade na igreja. Ele é o apóstolo João, que fala com autoridade inquestionável, mas as palavras de João não são ditatoriais e arrogantes. Em seus escritos, ele não faz menção de seu ofício apostólico.

2. O autor pode usar o pronome nós como um "nós" editorial, ou seja, ele procura evitar chamar a atenção sobre si mesmo e, portanto, recorre ao "nós" geral. Mas o chamado "nós" editorial é muito vago para ser aplicado nessa situação.

3. O pronome nós se refere a um grupo de pessoas que tem a mesma experiência. São os discípulos de Jesus, que estiveram com o Senhor Jesus, "começando no batismo de João, até o dia em que dentre nós foi levado às alturas" (At 1.22). Essas pessoas são testemunhas da ressurreição de Jesus e formam um grupo distinto que constitui o círculo dos 12 apóstolos. João, portanto, é "o último sobrevivente daqueles que haviam visto e ouvido o Senhor, o único representante de seus discípulos, falando em nome deles".

4. Alguns estudiosos entendem o "nós" (vs. l a 4) como pronome que inclui o autor e toda a igreja. De acordo com Dodd, o autor "fala não exclusivamente por si mesmo, ou por um grupo restrito, mas pela igreja como um todo, da qual o testemunho apostólico faz parte" e se dirige a pessoas que não têm conhecimento do Pai e do Filho". Nós discordamos. Os destinatários da carta, os quais o autor chama várias vezes de "filhinhos", não são descrentes. São "filhos de Deus" (3.1).
Se os destinatários são parte da igreja e parte do grupo mencionado por Dodd, então o texto de 1.3 significa que esse grupo - "Proclamamos a vocês o que vimos e ouvimos" - está se dirigindo a si mesmo. Além disso, os destinatários não viram nem ouviram Jesus, e certamente não o tocaram com suas mãos. Donald W. Burdick conclui: "É muito mais fácil aceitar a interpretação mais natural, que vê o autor como uma testemunha ocular, do que adotar a interpretação artificial de Dodd a fim de evitar a declaração do testemunho ocular".

5. Por fim, Raymond E. Brown entende o "nós" na introdução de 1 João dentro do contexto da escola joanina. Eles são os escritores joaninos, "os portadores e intérpretes tradicionais que têm um relacionamento próximo com o discípulo amado em sua tentativa de preservar o testemunho dele". Brown está completamente ciente da objeção de que os escritores joaninos não poderiam dizer que tocaram Jesus com suas próprias mãos (1.1). Ele procura eliminar essa objeção ao sugerir que essas pessoas "participaram da sensação apenas de modo indireto".

O leitor que aceita a autoria apostólica, porém, não encontra dificuldades, especialmente à luz da declaração do testemunho ocular. Pedro, por exemplo, escreve: "Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade" (2Pe 1.16). Somente os discípulos originais de Jesus podem dizer e escrever que o tocaram com suas mãos, como declara João no versículo introdutório de sua primeira epístola. Conseqüentemente, somos a favor da terceira interpretação apresentada.
J. R. W. Stott resume sucintamente a explicação do pronome nós no prólogo de 1 João (1.1-4):

“A primeira pessoa do plural é usada não apenas em verbos que descrevem a experiência histórica, mas também com os verbos que descrevem sua proclamação. As pessoas que fazem esse anúncio são pessoas que tiveram a experiência... Foram elas que viram com seus olhos, ouviram com seus ouvidos e tocaram com suas mãos e que, agora, com sua boca, proclamam essas coisas.”

B. Quem Recebeu as Epístolas?
O autor mostra-se um homem que fala com autoridade e cuja voz é reverenciada. Na condição de líder distinto na igreja, ele se dirige aos seus leitores sem se identificar na primeira carta, ou seja, os destinatários da primeira epístola não precisam perguntar quem a enviou. Eles o sabem, porque o autor parece ser alguém que residiu durante um bom tempo em sua região, que ensinou e pregou em suas igrejas. O autor se dirige aos seus leitores com palavras ternas de amor. Os termos filhinhos ou amados aparecem várias vezes (2. l, 12,13,18,28; 3.7,18; 4.4; 5.21) e indicam que o autor é de idade avançada. Como um pai na igreja, ele considera os leitores seus filhos espirituais. Ele os chama afetuosamente de "queridos amigos". Traduções mais antigas apresentam esse termo como "amados" (2.7; 3.2,21; 4. 1,7,11; ver também 3 Jo 1,2,5,11).
O autor escreve aos leitores de modo pessoal ao usar o pronome pessoal eu repetidamente ao longo das três epístolas. A ligação entre escritor e leitores é íntima e forte. Eles se conhecem e não são necessárias introduções detalhadas.
Apesar do autor e dos leitores se conhecerem, ao leitor moderno só resta adivinhar a identidade dessas pessoas ao ler com cuidado as evidências internas. O autor revela-se indiretamente e, ao mesmo tempo, oferece alguns detalhes sobre os leitores. Consequentemente, baseamo-nos no texto escrito para aprofundar nossa visão dos problemas enfrentados pelo autor e seus leitores.
Além do tom dessas cartas, que é marcado pelas virtudes do amor e da verdade, em nenhuma parte o autor deixa a impressão de ser simplório ou fraco. Pelo contrário, ele não tem medo de usar a palavra mentiroso (1.10; 2.4,22; 4.20; 5.10), ele chama seus adversários de "anticristos" (1 Jo 2.18,22; 4.3; 2Jo 7) e deixa clara a distinção entre os "filhos de Deus" e os "filhos do diabo" (3.10). De acordo com o autor, os "falsos profetas" possuem "espírito de erro" (4. 1 ,6). Além disso, a pessoa que não traz os ensinamentos de Cristo realiza "obras más" (2Jo 10,11).
O autor fala com autoridade absoluta quando ordena a seus leitores a não amarem o mundo (2.15), a permanecerem em Cristo (2.27), a crerem no nome de Jesus (3.23), a amarem uns aos outros (4.7,11,21), a andarem em amor (2Jo 6), a não convidarem falsos mestres a ensinar em suas casas (2Jo 10) e a imitarem aquele que faz o bem (3Jo 11).
Conseguimos colher informação suficiente dessas três epístolas para afirmar que o autor é testemunha ocular e ouvinte de Jesus (1.2), um arauto da palavra (1.5), que pode falar com autoridade sobre "o que era desde o princípio" (1.1; 2.7,13,14,24; 3.11; 2Jo 5,6) e é o presbítero em meio às igrejas (2Jo 1; 3Jo 1). Quando o autor se identifica como "o presbítero", parece não ter em mente nada além da palavra apóstolo. Esse escritor eminente, por ser extensamente influente e aclamado, não tem necessidade de se identificar. Ele é conhecido como João, filho de Zebedeu.

1. Leitores de 1 João
Os leitores da primeira epístola não eram, de modo geral, recém-convertidos. O autor se dirige a "pais" e "jovens" (2.13,14), muitos dos quais ouviram o evangelho "desde o princípio" (2.7,24; 3.11). Eles conhecem os ensinamentos de Cristo (3.23), obedecem aos seus mandamentos (2.7) e confessam seu nome (2.23; 5.10), estão plenamente cientes dos ataques perniciosos do diabo (2.13,14,16; 3.10; 4.3; 5.19), que lhes aparece na forma do anticristo (2.18,22; 4.3), falsos profetas (4.1) e mentirosos (2.4,22; 4.20).
São poucas as referências diretas ao Antigo Testamento. O autor menciona Caim pelo nome e o descreve como aquele "que pertencia ao maligno e assassinou seu irmão" (3.12; ver também Gn 4.8). Até mesmo alusões aos ensinamentos do Antigo Testamento são pouco frequentes. As palavras "se alegarmos que não temos pecado, nós nos enganamos e a verdade não está em nós" (1.8) soam como as palavras de Provérbios 28.13: "O que encobre suas transgressões, jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia".
Deus é descrito como "fiel e justo" (1.9). Essa frase é uma repetição e sumário de uma linha do Cântico de Moisés: "Deus é fidelidade, e não há nele injustiça: é justo e reto" (Dt 32.4); e as palavras "e não há nele nada que o faça tropeçar" (2.10) estão relacionadas ao Salmo 119.165: "Grande paz têm os que amam a tua lei; para eles não há tropeço". Por fim, a observação: "Os seus mandamentos não são penosos" (5.3) assemelha-se à instrução de Moisés: "Porque este mandamento, que hoje te ordeno, não é demasiado difícil, nem está longe de ti" (Dt 30.11).
A referência direta e as alusões ao Antigo Testamento oferecem uma descrição do autor, não dos leitores. Elas indicam que a mentalidade do autor era condicionada pelos ensinamentos judaicos, mas não podemos dizer o mesmo sobre os leitores. A ausência de citações do Antigo Testamento deixa a impressão de que seus leitores eram de origem gentia. Para eles, as Escrituras do Antigo Testamento eram relativamente novas.
Diz a tradição que João escreveu suas epístolas durante seu ministério em Éfeso, e que sua primeira epístola foi dirigida a uma igreja, ou a um grupo de igrejas, que o autor conhecia bem. Sucessor de Paulo e Timóteo, João foi pastor em Éfeso até sua morte, por volta de 98 d.C. De Éfeso, ele escreveu suas epístolas, supostamente para um público gentio, e não para aqueles leitores que eram cristãos judeus.

2. Leitores de 2 João
"O presbítero" envia sua carta "à senhora eleita e aos seus filhos" (v. 1). Ele se regozija grandemente em saber que os filhos dessa senhora "andam na verdade" (v. 4). Ele usa o pronome plural vocês quando lhes diz que tem muito o que escrever, mas que espera visitá-los em breve (v. 12). Por fim, ele conclui sua segunda epístola transmitindo saudações dos filhos da irmã eleita da senhora (v.13).
Alguns comentaristas tomam literalmente as palavras "à senhora escolhida e aos seus filhos" e as entendem como "a senhora eleita" ou "uma senhora eleita". Outros chegam a transliterar as palavras gregas, apresentando-as como nomes próprios: "Electa, a senhora" ou "Kyria, a eleita" ou "Electa Kyria". Porém, não existe evidência que prove o uso comum desses nomes gregos transliterados na literatura grega. Portanto, apenas as duas traduções, a senhora eleita, ou uma senhora eleita, são válidas.
Considerando que podemos entender as palavras do prólogo literalmente — uma senhora eleita e seus filhos — também podemos tomar essas palavras como referência à igreja local. Então a frase e aos seus filhos designa os membros de uma igreja. Além disso, o último versículo na carta, "os filhos da sua irmã escolhida enviam suas saudações" representa uma outra forma de dizer que os membros da igreja irmã enviam suas saudações. Observe que os filhos enviam suas saudações, e não a mãe. Se tomarmos as palavras literalmente, temos que concluir que a irmã da senhora eleita não está mais viva. Por outro lado, se entendermos a expressão irmã eleita como sendo a igreja, temos uma explicação aceitável. "O presbítero" (v. 1), sem dúvida, é um membro dessa determinada igreja.
Além do mais, as mudanças de singular para plural (o singular nos versículos 4,5,12 em contraste com o plural nos versículos 6,8,10,13) tornam mais provável que a referência seja a uma igreja, e não a uma pessoa individual. Apresso-me em acrescentar que essas mudanças nem sempre são perceptíveis na tradução. Por causa do uso do plural vocês, o autor parece dirigir-se não a uma única família, mas a toda uma comunidade.
E, ainda, os apóstolos Pedro e Paulo personificavam a igreja com um nome feminino. Em sua primeira epístola, por exemplo, Pedro escreve: "Aquela que se encontra em Babilónia, também eleita, vos saúda" (1Pé 5.13). Evidentemente ele quer dizer: "A igreja de Roma... vos saúda". Paulo, por sua vez, chama a igreja de virgem ou noiva de Cristo (2Co 11.2; Ef 5.25-29). Concluímos, portanto, que, em 2 João, a identificação feminina para uma determinada congregação está de acordo com essa prática em outras partes.
É simplesmente impossível determinar onde moravam os leitores de 2 João. Tendo em vista o longo ministério de João em Éfeso, supomos que ele tenha enviado essa carta a uma determinada igreja bastante conhecida por ele e localizada na parte ocidental da Ásia.

3. Leitores de 3 João
"O presbítero" escreve uma carta pessoal a seu amigo Gaio (v. 1) e a outros amigos (v. 14). Não sabemos praticamente nada sobre Gaio, exceto pela informação que o autor oferece em sua terceira carta. O nome em si aparece cinco vezes no Novo Testamento (At 19.29; 20.4; Rm 16.23; 1 Co 1.14; 3Jo 1). É difícil dizer se Gaio é um daqueles mencionados por Lucas em Atos, ou por Paulo em suas epístolas.
Gaio, o amigo amado do "presbítero", é um obreiro diligente na igreja (v. 3). Cuidou de missionários que precisavam de comida e hospedagem (v. 8). Além disso, teve que suportar a perversa maledicência de Diótrefes (v. 10).
João menciona haver, anteriormente, escrito uma carta para Diótrefes, que se recusou a responder ao conteúdo da mesma. Apesar de João não dirigir essa terceira epístola diretamente a esse malcontente, mas a Gaio, ainda assim ele escreve: "se eu for aí, chamarei a atenção para o que [Diótrefes] está fazendo" (v. 10).
Por último, "o presbítero" se refere a Demétrio. Essa pessoa é o oposto de Diótrefes na conduta cristã. Ele recebe elogios e menções honrosas (v. 12). Como no caso de Gaio, não sabemos quase nada sobre Demétrio. Qualquer tentativa de ligá-lo a Demétrio, o ourives (At 19.24) ou a Demas (2Tm 4.10), cujo nome pode ser uma forma abreviada de Demétrio, é em vão.
Não podemos afirmar com certeza onde viviam Gaio, Diótrefes e Demétrio. Seu local de residência não era muito afastado de Éfeso, de modo que João, mesmo sendo de idade avançada, ainda podia visitá-los. Talvez a única coisa que possamos dizer é que essas pessoas viviam na Ásia Menor.

C. Por Que as Epístolas Foram Escritas?
Quais eram os problemas enfrentados pela igreja na segunda metade do século I? O que levou João a escrever essas três epístolas a igrejas e indivíduos? Quais foram os motivos que ocasionaram a elaboração dessas cartas? Essas são algumas perguntas que desejamos considerar.

1. Heresias
Numa rápida leitura da epístola, já podemos detectar problemas nas igrejas. Lemos, por exemplo, que o anticristo está a caminho e que "muitos anticristos já vieram". Quem são eles? João escreve que "eles saíram de nosso meio, mas em verdade não faziam parte de nós, pois se fizessem parte de nós teriam permanecido conosco; mas o fato de terem partido mostrou que nenhum deles fazia parte de nós" (2.19). O autor adverte os leitores a não acreditarem em todo espírito, e continua: "testem os espíritos para saber se eles são de Deus, pois muitos falsos profetas têm saído pelo mundo" (4.1).
A partir dessas passagens, primeiro ficamos sabendo que os anticristos no passado haviam sido membros da igreja e que a deixaram de espontânea vontade. Em segundo lugar, eles se desviaram dos preceitos doutrinários e apareceram mais tarde como falsos profetas que tentavam desviar os membros da igreja (2.26; 2Jo 7).
Por fim, ficamos sabendo que a igreja enfrenta a oposição direta daqueles que antes pertenciam à comunidade cristã. Esses oponentes ensinam agora doutrinas que não estão de acordo com a fé cristã. A fim de fortalecer os membros da igreja e de adverti-los contra os falsos ensinamentos, o autor compôs suas epístolas.

Cristologia
A doutrina de Cristo é central ao longo de 1 e 2 João. O autor confirma o ensinamento de que Jesus Cristo é humano e divino e que é Filho de Deus. Já na introdução de sua primeira epístola, ele ensina sobre a humanidade e divindade de Jesus Cristo. João escreve que ele, juntamente com outros, ouviu e viu Jesus e também tocou-o com suas mãos (1.1), ou seja, Jesus é verdadeiramente humano. João conclui a introdução convidando os leitores a ter comunhão "com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo" (1.3). Assim, ele deixa claro que Jesus é divino.
Os falsos profetas recusavam-se a confessar que Jesus tinha vindo em carne (4.2,3; 2Jo 7). Eles negavam que Jesus é o Cristo (2.22) e que ele é o Filho de Deus (2.23; 4.15; 2Jo 9). Ensinavam que Jesus Cristo não podia ter vindo em forma humana.
João declara seus ensinamentos sobre a humanidade e divindade de Jesus Cristo ao perguntar: "Quem vence o mundo? Somente aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus. Esse é o que veio pela água e pelo sangue - Jesus Cristo. Ele não veio apenas pela água, mas pela água e pelo sangue" (5.5,6). E afirma que "todo espírito que reconhece que Jesus Cristo veio em carne é de Deus" (4.2). Portanto, João exorta os crentes a permanecerem firmes na verdade que ouviram desde o princípio, pois então "permanecerão no Filho e no Pai" (2.24).

Moralidade
Os falsos profetas que negam a doutrina central a respeito da pessoa de Cristo também desenvolvem uma visão distorcida do pecado e da lei. Afirmam, por exemplo, que estão livres de pecado (1.8) e tornam conhecido o fato de não terem pecado (1.10). Negam que a comunhão com Deus exija a "prática da verdade" (1.6). Recusam-se a seguir o exemplo que foi deixado por Jesus durante seu ministério na terra (2.6). Afirmam estar em comunhão com Deus, mas continuam a andar em trevas (1.6) e dizem conhecer a Deus, mas não estão dispostos a obedecer aos seus mandamentos (2.4).
Esses enganadores ignoram os mandamentos ao se recusarem a amar seu irmão em Cristo. De fato, João escreve: "Aquele que odeia seu irmão está na escuridão e anda de lá para cá na escuridão; ele não sabe onde está indo, pois a escuridão o cegou" (2.11). João não tem medo de chamar essas pessoas de "filhos do diabo" (3.10); eles odeiam seu irmão (2.9; 3.15; 4.20) e se recusam a suprir as necessidades desse irmão quando poderiam fazê-lo (3.17).
Declarando que Deus exige uma vida que demonstre obediência, João afirma que a pessoa que vive em Cristo imita a vida de Jesus (2.6), busca a pureza que há em Cristo (3.3), não continua a pecar (3.6; 5.18) e ama o seu próximo (4.11).

Afirmações
Com suas declarações de "se dissermos", João esboça sucintamente os ensinamentos dos falsos profetas. Em sua réplica, ele propositadamente faz uso da repetição. Observe, primeiro, a afirmação dos falsos mestres sobre ter comunhão com Deus (1.6), mas a verda¬de é que vivem em trevas. Se conhecem Deus como o Deus da luz (1.5), então a comunhão com ele exclui as trevas. Eles, porém, vivem em trevas, enganam-se uns aos outros e não praticam a verdade.
Em seguida, eles afirmam que não têm pecado (1.8), mas enganam a si mesmos ao não dizer a verdade. Em terceiro lugar, afirmam que não têm cometido pecado (1.10), mas, ao fazer essa afirmação, chamam Deus de mentiroso.
Além disso, os falsos profetas afirmam conhecer Deus (2.4), mas se recusam a obedecer aos mandamentos de Deus e, portanto, vivem fora da esfera da verdade. E, finalmente, eles afirmam estar na luz (2.9), mas estão em trevas, porque odeiam seus irmãos. Suas afirmações e as refutações de João são de uma simplicidade repetitiva. Ainda assim, fica claro o propósito de João: ele expõe a mentira e proclama a verdade.

2. Hereges
Quem são os adversários aos quais João se dirige em suas epístolas? Considerando que as evidências do século I são escassas, temos testemunho suficiente de escritores do século II. E, apesar de precisarmos ser cautelosos em nossa avaliação desses testemunhos, podemos observar prontamente que as origens da heresia no século II remontam ao século I.

Gnósticos
O termo gnóstico é derivado da palavra grega gnosis (conhecimento) e tem amplo significado. Os gnósticos do século II promoviam vários ensinamentos, mas uma visão geral desses ensinamentos está fora do escopo desse estudo. Os ensinamentos gnósticos da Síria, Palestina e Egito, porém, estão relacionados ao nosso estudo. Por isso, farei um resumo rápido dessas idéias.
Em primeiro lugar, os gnósticos exaltavam a aquisição de conhecimento, pois, a seu ver, o conhecimento era o fim de todas as coisas. Por causa de seu conhecimento, tinham uma compreensão diferente das Escrituras, e, por causa dessa compreensão, separavam-se dos cristãos que não haviam sido iniciados.
Em segundo lugar, os gnósticos declaravam que a matéria é má. Baseavam essa doutrina nas muitas imperfeições que observamos na natureza. Portanto, ensinavam os seguintes pontos:

1. O mundo é mau. O mal causa uma separação na forma de um abismo intransponível entre o mundo e o Deus supremo. Assim, o Deus supremo não pode ter criado o mundo.

2. O Deus do Antigo Testamento criou o mundo. Ele não é o Deus supremo, mas um poder inferior e perverso.

3. Qualquer ensinamento sobre a encarnação é inaceitável. É impossível ao Verbo divino viver num corpo impuro.

4. Não pode haver ressurreição do corpo. Aqueles que são libertos ficam livres dos grilhões de um corpo impuro.

Quanto ao ponto 3, alguns gnósticos defendiam a causa do Docetismo (do verbo grego dokein, aparecer). Esses mestres gnósticos negavam que um Cristo sem pecado pudesse ter um corpo humano (e portanto, pecaminoso). Faziam, então, uma distinção entre o corpo humano de Jesus e o Cristo que veio do céu. Cristo apenas desceu sobre o corpo de Jesus. Dessa forma, os docetistas queriam dizer que o Cristo celestial não havia tido contato com um corpo que era mau. Eles, de fato, ensinavam que Jesus não tinha vindo em carne (comparar com 1Jo 4.3; 2Jo 7).
Tomando por base as epístolas de João, porém, não podemos afirmar ao certo se o autor dirige suas cartas contra os docetistas extremistas. Apesar de João enfatizar a humanidade de Cristo, ele não indica que seus opositores consideravam o corpo de Cristo um mero espectro. Na introdução de 1 João e ao longo da segunda e terceira epistolas, João afirma a unidade das duas naturezas (humana e divina) de Jesus Cristo.
Brown compilou uma lista de semelhanças entre os versículos em 1 e 2 João e os ensinamentos na literatura gnóstica. Eis alguns exemplos:

1. O contraste de luz e trevas, verdade e falsidade (comparar com 1Jo 2.9; 4.6) é um tema do Evangelho da Verdade.

2. A declaração de não ter pecado por causa de uma união especial com Deus (ver 1Jo 1.6,8,10; 2.4,6) faz lembrar o Evangelho de Maria, no qual o Salvador diz: "Não existe pecado".

3. João ensina a verdade bíblica de que "Deus é luz" (1Jo 1.5) e, portanto, o crente está na luz (2.9). Em Corpus Hermeticum (1.29) lemos que "Deus, o Pai do qual veio o homem, é luz e vida".

Essas referências gnósticas são de um período separado por mais de um século da época em que João escreveu suas epístolas. Além disso, essas referências, da forma como se apresentam, são um tanto inócuas e não parecem representar uma ameaça para a comunidade cristã. Portanto, precisamos procurar uma fonte contemporânea de João e que é considerada gnóstica pelos escritores cristãos do século II.

Cerinto
Os pais da igreja nos falam de um certo Cerinto que viveu em Éfeso. Irineu relata uma história que Policarpo costumava contar sobre Cerinto e o apóstolo João:

“Há também aqueles que ouviram dele que João, o discípulo do Senhor, ao ir banhar-se em Éfeso e percebendo a presença de Cerinto, precipitou-se para fora da casa de banho sem ter se lavado, exclamando: "apressemo-nos, antes que a casa de banho desmorone, pois Cerinto, o inimigo da verdade, encontra-se lá dentro".
Quando, mais de um século depois, Eusébio escreve sua História Eclesiástica, ele inclui esse relato duas vezes, usando praticamente as mesmas palavras. Em sua primeira epístola, João escreve: "Mentira alguma jamais procede da verdade. Quem é o mentiroso senão aquele que nega que Jesus é Cristo? Este é o anticristo – o que nega o Pai e o Filho (2.21,22). João escreveu essas palavras como reação aos ensinamentos de Cerinto? Quais eram os ensinamentos de Cerinto? Mais uma vez, Irineu oferece essa informação quando escreve delongadamente:

“Cerinto, um homem que foi educado na sabedoria dos egípcios, ensinava, por sua vez, que o mundo não havia sido feito pelo Deus primário, mas por um certo Poder, completamente separado dele e distante daquele Principado que é supremo sobre o universo e que ignora a existência de qualquer coisa que está acima de si. Ele representava Jesus como tendo nascido de uma virgem, mas sendo filho de José e Maria pela geração humana normal, enquanto que, ainda assim, Jesus era mais reto, prudente e sábio do que outros homens. Além do mais, depois de seu batismo, Cristo desceu sobre ele na forma de um pombo, vindo do Governante Supremo, e, então, ele proclamou o Pai desconhecido e realizou milagres. Todavia, por fim, Cristo deixou Jesus, e então Jesus sofreu e ressuscitou, enquanto Cristo permaneceu impassível, sendo ele um ser espiritual.”

Cerinto revela-se um gnóstico que atribui a criação não a Deus, mas a um certo poder separado de Deus. Seu ensinamento fundamental diz respeito à humanidade e divindade de Jesus Cristo. Ele faz distinção entre o Jesus humano, nascido "pela geração humana normal" de José e Maria e o Cristo divino. Na forma de um pombo, Cristo desceu sobre Jesus, de modo que Cristo é, na verdade, o equivalente ao Espírito Santo.
A intenção de Cerinto é separar o Cristo divino do Jesus pecaminoso, que sofre e ressuscita dos mortos. De acordo com Cerinto, o Cristo divino não pode sofrer, pois é um ser espiritual. Cristo retorna, ou voa, de volta para o Pleroma (a plenitude).
Em suas epístolas, João reage a esse tipo de ensinamento. Ele chama aqueles que "não reconhecem Jesus Cristo como tendo vindo em carne" de enganadores e anticristos (2Jo 7). Ensina que Jesus Cristo, o Filho de Deus, "veio por meio de sangue e água" (1Jo 5.6). Afirma também a unidade do Pai e do Filho ao declarar que "todo aquele que nega o Filho, esse não tem o Pai; aquele que confessa o Filho, tem igualmente o Pai" (1Jo 2.23). Assim ele parece escrever contra a doutrina de Cerinto sobre "o Pai desconhecido". Para João, o Filho Jesus Cristo e Deus o Pai são um.
Baseamo-nos apenas nos escritos dos pais da igreja do século I, pois não temos documentos dos próprios cerintianos. No século IV, Epifânio menciona que o Evangelho Segundo Cerinto estava em circulação. Seja qual for o grau de veracidade dessa informação, temos a nítida impressão — tomando por base tudo o que já foi escrito — que Cerinto era um grande oponente gnóstico da igreja cristã e de que Irineu faz uma descrição aceitável do ensinamentos de Cerinto. Se, portanto, Irineu recebeu sua informação de Policarpo, que foi discípulo do apóstolo João, temos um relato razoavelmente confiável da pessoa e dos ensinamentos de Cerinto.
Já no último ano do século I, líderes da igreja opunham-se com vigor à ameaça de doutrinas falsas que Cerinto e outros tentavam propagar no meio dos membros da comunidade cristã. João via que falsas doutrinas levavam a uma prática falsa e a uma desconsideração para com Deus. Os nicolaítas (Ap 2.6,15), que eram contemporâneos de Cerinto, tornaram-se conhecidos na Ásia Menor. Irineu es¬creve: "Os nicolaítas... levam uma vida de irrestrita entrega aos seus próprios prazeres".
João escreveu sua carta não apenas para contra-atacar as aberrações na doutrina e na vida que os oponentes ensinavam e exemplificavam. Ele também escreveu suas epístolas para fortalecer os crentes em sua nova visão da natureza e da pessoa de Jesus Cristo, e sua fé nele.

3. Difamadores
Quais foram as razões para escrever a segunda e terceira epístolas? Apesar de sua brevidade, essas duas cartas demonstram ter diferentes propósitos. A segunda carta trata dos mesmos problemas que a primeira: o surgimento de muitos enganadores (v. 7), os quais João chama de falsos profetas em 1 João 4.1. A terceira epístola, porém, é uma carta muito pessoal para o amigo querido Gaio e contém conselhos sobre uma questão relacionada às congregações locais.

Enganadores
O cerne da questão em 2 João é idêntico ao da primeira carta. João adverte os leitores sobre as falsas doutrinas ensinadas por muitos enganadores, que afirmavam que Jesus não veio em carne (v. 7). O paralelo dessa advertência é a admoestação repetida de João aos leitores de 1 João para que não se deixem desviar por enganadores (2.26; 3.7; 4.1-6).
João diz aos leitores que tais enganadores são anticristos, que os leitores devem cuidar para que não percam sua herança espiritual, não devem convidar um enganador para entrar em suas casas ou igrejas e jamais devem apoiar suas obras más (vs. 7 a 11).
Aparentemente, temos uma contradição entre a segunda e terceira epístolas. Na segunda, os leitores são proibidos de oferecer hospitalidade aos falsos mestres, mas, na carta seguinte, João lhes diz para "acolher esses irmãos", ou seja, aqueles que pregam o nome de Jesus Cristo (3Jo 8). Porém, ao refletirmos melhor, veremos que a contradição desaparece quando entendemos o propósito desses dois grupos: um deles desejava entrar nos lares cristãos e espalhar doutrinas perniciosas contrárias ao ensinamento de Cristo (2Jo 9,10); o outro grupo se recusava a aceitar ajuda e hospitalidade de pagãos, mas aceitava, pelo contrário, comida, pousada e ajuda de cristãos para que juntos pudessem trabalhar pela verdade (3Jo 7,8).
A exortação de João para que recebessem bem os pregadores do evangelho e sua admoestação para não oferecer hospitalidade aos falsos profetas encontra paralelo no Didaquê, os chamados Ensinamentos dos Doze Apóstolos. Ali nós lemos:

“Recebei qualquer um que vier e ensinar as coisas acima mencionadas. Mas se o próprio mestre é corrompido e ensina a outro doutrinas que destroem estas coisas, não dai ouvidos a ele, mas se o ensinamento é para fazer crescer a retidão e conhecimento do Senhor, recebei-o como ao Senhor.”
João atacou esses falsos profetas com veemência ao chamá-los de anticristos. Ele sabia que seu propósito era destruir as fundações do Cristianismo; eles negavam a humanidade de Jesus Cristo e induziam os crentes a desobedecerem à lei de Deus.

Diótrefes
A última epístola de João foi escrita por causa de missionários viajantes. Estes relataram a fidelidade de Gaio e a dureza de Diótrefes. O primeiro abriu seu lar para os missionários do evangelho, enquanto o outro não queria nada com eles.
Consequentemente, João escreve a carta na qual elogia seu amigo Gaio, menciona que tem planos de ir até lá e diz: "Far-lhe-ei lembradas as obras que ele [Diótrefes] pratica" (v. 10). Em seu egoísmo, Diótrefes deseja ser o líder absoluto da igreja. Faz alguns comentários maldosos sobre João e sobre membros da igreja e rejeita a autoridade do presbítero João.
Em sua primeira e segunda epístolas, João expressa sua oposição aos ensinamentos heréticos. Em sua última epístola, porém, João não dá nenhuma indicação de estar se opondo a hereges. Escreve a terceira epístola por causa de um conflito de personalidades que chega ao seu ápice quando o autor e Diótrefes se encontram. A carta, portanto, serve de aviso para Gaio, para a igreja e, indiretamente, para Diótrefes, de que a visita acontecerá em breve.
A palavra igreja aparece três vezes nessa epístola curta (vs. 6,9,10). Dentro do contexto, o autor parece usar o termo para referir-se a mais de uma congregação — primeiro à igreja à qual o próprio João pertence (v. 6), depois à igreja da qual Diótrefes é líder (vs. 9 e 10). Porém, a igreja à qual João dirigiu sua carta ("Escrevi alguma coisa à igreja", v. 9) não precisa necessariamente ser a congregação da qual Gaio é membro. Podemos concluir que Diótrefes não havia expulso Gaio. Por si só, esse ponto pode indicar que Gaio pertencia a uma outra igreja.
Por fim, João escreveu sua terceira epístola para elogiar Demétrio. Não sabemos nada mais sobre esse crente fiel além daquilo que o autor revela. Demétrio recebe uma palavra de louvor.

D. Quando as Epístolas Foram Escritas?
Além de fixar uma data para a composição das epístolas, precisamos determinar se as epístolas foram escritas antes ou depois do Evangelho de João. Mesmo que um estudo do quarto evangelho esteja fora do escopo de uma introdução às cartas de João, devemos considerar a questão da primazia temporal. Além disso, devemos cuidar para não construir um edifício a fim de provar uma afirmação quando o próprio autor não nos oferece os tijolos para esse edifício.
As epístolas em si não dão nenhuma informação que nos ajude a determinar a data de sua composição. Estudiosos normalmente datam a composição das epístolas de João entre 90 e 95 d.C. A razão para isso é o fato das epístolas terem sido escritas para contra-atacar os ensinamentos do Gnosticismo, que estava ganhando proeminência per¬to do final do século I. Os argumentos em favor de se datar o quarto evangelho antes das cartas de João gira em torno do rompimento ocorrido entre sinagoga e igreja depois da publicação do evangelho. Ao que parece, esse rompimento indica a razão pela qual as epístolas não têm citações específicas do Antigo Testamento, ou seja, os primeiros leitores do evangelho não são os mesmos que receberam as cartas de João. Além disso, algumas passagens em 1João parecem ser referências diretas ao evangelho (comparar por exemplo 1.5 com João 8.12 ["Deus é luz" e "Eu sou a luz"]). De um modo geral, as evidências parecem apoiar a idéia de que o evangelho precede a Primeira Epístola de João.
Em sua segunda carta, João enfatiza o conceito de verdade (vs. 1 a 4). Ele apresenta uma exposição elaborada desse conceito em sua primeira epístola (1.6,8; 2.4; 21; 3.18,19; 4.6; 5.6). Falsos profetas que desejam entrar no lar dos cristãos não apresentam essa verdade, mas a mentira (2Jo 7-11). Por essa razão, os estudiosos preferem aceitar a idéia de que João escreveu as cartas na sequência em que estas chegaram até nós.
É impossível detectar referências a tempo em qualquer uma das epístolas. Assim, se aceitarmos a ordem habitual de 1, 2 e 3 João, supomos que essa é a ordem em que foram transmitidas ao longo dos séculos. A terceira epístola vem depois da segunda? Mesmo que respondamos afirmativamente, não podemos provar nada no tocante à sequência. Certamente não podemos dizer que o comentário em 3 João 9, "escrevi alguma coisa a igreja" é uma referência a 2 João. O contexto de 3 João 9 não faz referência alguma a uma epístola que tenha a mensagem de 2 João e nem mesmo de 1 João. Em resumo, devemos confessar que nos faltam os detalhes necessários para que possamos falar algo de importância sobre a sequência de 2 e 3 João.
Além do mais, não é possível provarmos que a situação das igrejas havia piorado depois da composição de 2 João, de modo que João tivesse que escrever uma outra epístola.
Partindo da sequência na qual a igreja primitiva dispôs as epístolas de João, inferimos que as três cartas foram compostas na ordem em que as recebemos e, tomando por base o conteúdo desses escritos, inferimos que 1, 2 e 3 João foram escritas aproximadamente entre 90 e 95 d.C.

E. Qual é o Conteúdo das Epístolas?
Qualquer um que leia a primeira epístola fica com a impressão de que o autor se repete com frequência. Esse tipo de repetição é característico de um autor de idade avançada? Estamos diante da obra de um autor cuja cultura e época são diferentes das nossas?
Em resposta a essas questões, alguns comentaristas afirmam que a sequência em 1 João não é circular, mas em forma de espiral. Vêem uma estrutura em espiral semelhante à construção do prólogo no Evangelho de João. Em outras palavras, encaram a estrutura da primeira epístola como algo que é típico do apóstolo João. Além disso, as palavras que Jesus proferiu na presença de seus discípulos no cenáculo — registradas em João 14-17 — apresentam essa mesma característica.

1. Temas teológicos em 1 João
Quais são os temas que se repetem em 1 João? Depois de uma breve introdução (1.1-4) na qual ele convida os leitores a ter comunhão com o Pai e o Filho, Jesus Cristo, o autor diz: "Deus é luz" (l .5). O primeiro tema, portanto, diz respeito às características de Deus.

Características de Deus
João usa a frase Deus é luz para refutar as declarações de seus oponentes gnósticos, que dizem poder ter comunhão com Deus, mas não precisam viver praticando a verdade (1.6). Ele lhes diz que estão vivendo em trevas e são mentirosos. Vai até mais longe e afirma que fazem de Deus um mentiroso (1.6,8,10). João encoraja os crentes ao assegurá-los de que, se andam na luz, têm comunhão uns com os outros. Ele também lhes assegura que Deus perdoa seus pecados por meio do sangue de Jesus (1.7,9).
O amor de Deus é a característica seguinte (2.5,15). O amor de Deus ilumina o crente quando este obedece aos mandamentos de Deus, pois então o crente sabe que está em Deus. O mandamento de amar não é novo. Portanto, a pessoa que obedece a esse mandamento antigo ama seu irmão e vive na luz (2.10). Ela é recipiente do amor e da luz de Deus. Nela permanece a Palavra de Deus (2.14). Aquele que faz a vontade de Deus tem a vida eterna (2.17).
Deus, o Pai, derrama seu amor sobre seus filhos (3.1) e diz a esses filhos que devem amar uns aos outros (3.11,14,23). O amor vem de Deus (4.7) e aquele que é filho de Deus (4.4,6) o conhece porque "Deus é amor" (4.8,10,16).
Como o filho de Deus expressa seu amor pelo Pai? Obedecendo aos seus mandamentos (5.3). Aquele que é nascido de Deus não vive continuamente em pecado, pois Deus o guarda do maligno (5.18). E por que Deus cuida de seu filho? Deus o ama por causa de seu Filho, Jesus Cristo, que é verdadeiro Deus e vida eterna (5.20).

Filho de Deus
Já na introdução de sua primeira epístola, João demonstra claramente que Jesus Cristo é humano e divino. Afirma que Jesus Cristo tem um corpo físico, é vida eterna e é Filho de Deus (1.1-3). João se opõe aos ensinamentos dos falsos profetas, que negam a humanidade de Cristo (4.1-3; 2Jo 7). "Negar que Cristo veio em carne também é negar que Jesus é o Filho de Deus" (ver 4.15; 5.5).
Os gnósticos ensinavam que, pelo fato de Deus habitar em pura luz, seu Filho não pode viver num corpo humano impuro, entre seres humanos pecadores. A consequência desse ensinamento é que o Cristo dos gnósticos não pode ser o Filho de Deus conforme é revelado pelas Escrituras.
João mostra Jesus Cristo como a pessoa com a qual temos comunhão (1.3), quem nos perdoa e "nos purifica de todo o pecado" (1.7,9). Jesus é aquele que nos defende diante de seu Pai. Ele é nosso advogado de defesa, que intercede por nossa absolvição e tem poder de nos libertar (2.1). Ele se ofereceu como um sacrifício pelo pecado (2.2).
João revela que Deus ordena que creiamos no nome de seu Filho (3.23). A crença em Jesus Cristo deve se expressar por meio do reconhecimento de que ele "veio em carne" (4.2). A pessoa que confessa que Jesus Cristo é o Filho de Deus tem comunhão com Deus e é filha de Deus (4.15; 5.1). Essa pessoa tem fé em Deus.

Fé em Deus
João cita claramente o mandamento de Deus: "Que creiamos em o nome de seu Filho Jesus Cristo". Quando obedecemos a esse mandamento, temos comunhão com Deus e com seu Filho.
O crente, porém, deve exercitar a capacidade de discernir se um ensinamento é de Deus ou do maligno. Ele identifica o Espírito de Deus quando reconhece que Jesus Cristo veio em carne (4.2). A fé em Cristo é fundamental para o filho de Deus, pois essa fé dá a ele a vitória sobre o mal e vence o mundo (5.4). Jesus Cristo, o Filho de Deus, é verdadeiramente humano. Ele começou seu ministério público ao sujeitar-se ao batismo e terminou sua vida na terra quando verteu seu sangue na cruz do Calvário (5.6,7). E Jesus é verdadeiramente divino, pois tem a vida eterna (1.2; 5.11,13,20).
A diferença entre o crente e o descrente está em que um aceita o testemunho que Deus deu de seu Filho e o outro rejeita esse testemunho e, assim, chama Deus de mentiroso (5.10). Qual é o testemunho de Deus? João é específico, pois escreve: "E este é o testemunho: Deus nos deu vida eterna, e essa vida está em seu Filho" (5.11). Todo aquele que crê no nome de Jesus o aceita como Filho de Deus e por meio dele possui a vida eterna (5.13). Jesus Cristo é a vida eterna, e ele a compartilha com todos aqueles que nele crêem.
Além disso, a fé e o conhecimento estão inseparavelmente entretecidos. João ensina essa verdade quando diz: "E, assim, conhecemos e confiamos no amor que Deus tem por nós" (4.16).

Conhecimento de Deus
A primeira epístola dá ao leitor uma tranquila segurança de que Deus toma conta de seus filhos, de modo que o poder do maligno não os toca. 1 João está repleto de uma serena confiança, sem negar a responsabilidade do homem.
Essa confiança se expressa quando o crente é capaz de dizer que conhece Deus, tem comunhão com ele e obedece aos seus mandamentos (2.3). Como sabemos que temos comunhão com Deus? João escreve: "Nisto sabemos que estamos nele: aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou" (2.5,6). João louva os pais porque eles conhecem Deus desde o princípio e elogia os filhos porque têm conhecido o Pai (2.13,14).
O crente sabe a verdade (2.21), recebeu a unção do Espírito de Deus, que vive dentro dele (2.27), e espera confiantemente a volta de Jesus Cristo (2.28). Ele não apenas espera a volta de Cristo, mas também tem esperança fervorosa e um conhecimento seguro de que os crentes serão como Cristo e serão purificados do pecado (3.2,3,5).
Os crentes já podem se expressar sobre o tempo presente: eles passaram da morte causada pelo pecado para a vida que Cristo lhes deu. Demonstram essa vida em seu amor uns pelos outros. Sabem o que é amor ao olhar para Jesus, que deu sua vida por eles (3.16). E quando vêem o efeito do amor em sua vida, percebem que pertencem à verdade e que Deus, por meio de seu Espírito, neles vive (3.19,24).
João ensina que, pelo fato de conhecer Deus, o crente também é capaz de distinguir entre os ensinamentos que vêm de Deus e doutrinas que são falsas (4.2). O filho de Deus, portanto, sabe como reconhecer o Espírito da verdade em contraste com o espírito do engano (4.6). Ele é capaz de fazê-lo, pois o Espírito de Deus está nele (4.13).
Por fim, o crente tem completa confiança de que Deus ouvirá suas orações e pedidos. Sempre que pede algo em oração, desde que o pedido esteja em harmonia com a vontade divina, Deus responde a essa oração. João, de fato, remove toda incerteza sobre o futuro quando escreve com absoluta segurança: "E se sabemos que ele nos ouve quanto ao que lhe pedimos, estamos certos de que obtemos os pedidos que lhe temos feito" (5.15). João encerra sua primeira epístola revelando a fonte de nossa confiança: o Filho de Deus. Jesus Cristo veio e nos deu o conhecimento da verdade e a vida eterna (5.20).

Pecado
O pecado é um tema teológico que João discute em todos os capítulos de sua primeira epístola. Ele observa que Jesus Cristo nos purifica de todo o pecado e injustiça, e quando confessamos os nossos pecados ele está disposto a nos perdoar e nos purificar (1.7,9). Também comenta que, se afirmamos não ter em nós pecado algum, ou dizemos que não pecamos, estamos sob o poder do engano, isto é, enganamos a nós mesmos e chamamos Deus de mentiroso (1.8,10).
A remissão dos pecados, pois todos nós caímos em pecado, torna-se possível por intermédio de Jesus Cristo, o Justo (2.1). Ele é nosso advogado no tribunal quando o Pai nos acusa de desobediência. Então, o Filho de Deus nos defende. Ele é a propiciação pelos nossos pecados (2.2) e sabemos que nossos pecados foram perdoados por causa de seu nome (2.12). Ele cumpriu a exigência de Deus, o Pai, que deu o primeiro passo para a nossa redenção. Em seu amor por nós, Deus mandou seu Filho "como sacrifício expiatório pelos nossos pecados" (4.10).
Se o crente recebe a remissão dos pecados, o que lhe dá segurança de que Cristo o guardará do pecado? João responde fazendo três declarações que começam com o termo “todo”. Primeiro, "todo aquele que permanece nele não vive pecando". Depois, "todo aquele que vive pecando não no viu nem o conheceu" (3.6). Finalmente, "todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado" (3.9). O diabo e seus seguidores continuam em pecado, mas o mesmo jamais pode ser dito dos filhos de Deus. O crente obtém o perdão dos pecados por meio de Jesus Cristo, mas o descrente continua a viver em pecado.
Como sabemos que somos filhos de Deus e não do diabo? João responde que "aquele que não faz o que é certo não é um filho de Deus; nem aquele que não ama seu irmão" (3.10).
Em linguagem sucinta e clara, João afirma que "o pecado é a transgressão da lei" (3.4). Ele volta a essa afirmação mais para o final da primeira epístola (5.16,17). Lá, ele desenvolve o assunto falando sobre o que significa pecar intencionalmente. Ele sabe que "toda injustiça é pecado", mas acrescenta que "há pecado não para a morte" (5.17); o pecado que leva à morte é a rejeição proposital da lei de Deus. "Enquanto o cristão tem um impedimento quanto ao pecado intencional dessa natureza, o mesmo não acontece com o mundo". João exorta os leitores a orarem pelo irmão que comete um pecado que não é mortal. Ele enfatiza que não está exortando seus leitores a orarem pela pessoa que cometeu o pecado mortal (5.16). Para tranqüilizar seus leitores, porém, ele os lembra que o filho de Deus não continua em pecado, é mantido em segurança e está fora do alcance de Satanás (5.18).

Vida eterna
Na literatura de João, o ensinamento sobre a vida eterna é um tanto proeminente. Na chamada oração sacerdotal, por exemplo, Jesus declara que "a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (Jo 17.3). Em 1 João, o conceito de vida eterna está incorporado em Jesus Cristo, de modo que o autor dessa epístola chega a afirmar que "damos testemunho dela e proclamamos a vocês a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada" (1.2). Juntamente com os outros apóstolos, João proclamou o "Verbo da vida" (1.1). Ele revela que esse Verbo é eterno e, portanto, deixa implícito que o Filho de Deus "existe desde a eternidade e para o bem dos homens (ver Jo 1.4; 1Jo 1.1 em diante), ou seja, ele é a fonte de vida e poder divino tanto na antiga como na nova criação".
Jesus Cristo veio a existir para dar ao ser humano a vida eterna. Num certo sentido, essa dádiva de vida é uma promessa (2.25); por outro lado, é algo que já possuímos, pois já passamos da morte para a vida (3.14). Talvez devêssemos pensar em termos de uma promessa e seu cumprimento. A princípio, já possuímos a vida eterna por causa de nossa união com Cristo. Porém, no momento da morte, quando deixarmos a terra e entrarmos na eternidade, receberemos a vida eterna em sua plenitude, conforme Deus prometeu em sua Palavra.
Quando conhecemos o Filho de Deus como nosso Salvador e cremos no seu nome, nós temos a vida eterna (5.13). João afirma que "Deus nos deu a vida eterna" (5.11). Ele especifica que a origem dessa vida encontra-se no Filho de Deus, e que, quem tem o Filho, tem a vida (5.12).
O perdão dos pecados resulta em vida, isto é, se você vê um irmão cometendo um pecado que não é mortal, então você deve orar e pedir que Deus o perdoe, "e Deus lhe dará vida". Deus concede a remissão dos pecados e a vida eterna por meio de seu Filho, Jesus Cristo.
Ao longo de sua primeira epístola, João fala da vida eterna que Deus dá ao crente e menciona que Jesus Cristo é a personificação da vida eterna. Na conclusão de sua epístola, ele observa que o Filho de Deus é "o verdadeiro Deus e a vida eterna" (5.20) e que nós estamos nele. O propósito de 1 João é tornar conhecido o fato de que, por estarmos em Jesus Cristo, temos vida eterna.
Em nenhuma parte da epístola de João detectamos qualquer contraste entre a descrição da vida presente de Jesus Cristo e de sua vida eterna. João não enumera as diferenças de se possuir a vida no presente e a plenitude de vida no futuro. Ao invés disso, ele descreve a vida eterna em termos de íntima comunhão com Jesus Cristo. Quando estamos nele, temos vida eterna (1.2; 2.24,25; 5.20).

A Volta de Cristo
O que João diz sobre a volta de Jesus Cristo e a vida depois dela? São poucas as referências diretas e indiretas à vinda de Cristo.
Eis as referências indiretas. João menciona que este mundo e seus desejos chegarão ao fim, mas o crente que faz a vontade de Deus em obediência, pelo contrário, viverá para sempre (2.17). Ele informa seus leitores de que estão vivendo na última hora, que inclui toda a era presente, e nessa era é que vem o anticristo (2.18). O espírito do anticristo se manifestou e está se fazendo sentir no mundo em que vivemos (4.3, 2Jo 7).
Outra referência indireta é a palavra vitória, que está relacionada à conclusão de um conflito. João fala da vitória da fé que conquistou o mundo (5.4). O filho de Deus, ou, mais precisamente, aquele que crê no Filho de Deus, é vitorioso, mesmo sabendo que o mundo inteiro é controlado pelo maligno (5.19).
As referências diretas à volta de Cristo são mais explícitas. João fala claramente sobre o aparecimento do Senhor. Ele nos exorta, por exemplo, a continuar em Cristo "para que, quando ele se manifestar, possamos estar seguros e desembaraçados diante dele em sua vinda" (2.28). João se refere à volta de Cristo e não à primeira vinda, como fica evidente no contexto mais amplo. Ele fala com ansiedade sobre nossa futura condição e aparência. Exclama: "Caros amigos, agora somos filhos de Deus, e aquilo que viremos a ser ainda não foi revelado. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos como ele, pois o veremos como ele é" (3.2). Aqui ele nos diz que veremos Jesus quando ele voltar e nos informa que seremos como Jesus em aparência. Em outra passagem, João põe a manifestação de Jesus no contexto de seu ministério terreno: "Vocês sabem que ele se manifestou para que pudesse remover os pecados" (3.5).
Por fim, João introduz a idéia do dia do julgamento. Ele nos encoraja com o ensinamento de que o amor nos aperfeiçoa "para que no dia do julgamento mantenhamos confiança" (4.17). Por sermos um com Cristo em amor, não existe medo. O amor lançou fora o medo e o medo está relacionado ao castigo. Em resumo, o crente não se vê diante do castigo no dia do julgamento (4.18). No capítulo 2, João afirma que o crente pode confiar em Jesus Cristo para defendê-lo no tribunal (v. 1). No dia do julgamento, portanto, Jesus irá interceder em favor do crente e dizer ao Pai que ele já pagou por todos os pecados daquele que crê (2.2).
Há outros temas que são apresentados por João, inclusive o conceito de mundo, ódio e maligno. Esses conceitos, porém, são a antítese dos temas relacionados à comunhão dos crentes com Deus, o amor que expressam para com ele e uns para com os outros e as bênçãos que recebem de Cristo. Ao esboçarmos os temas positivos, implicitamente observamos os temas opostos. Portanto, estamos cientes deles, mas os consideramos apenas de forma mais simples. Em outras palavras, enfatizamos o positivo às custas do negativo e assim seguimos o exemplo do apóstolo João.

2. Esboços de 1, 2 e 3 João
Este é um esboço com cinco pontos de 1 João que pode ser facil¬mente memorizado
1.1-4 Prefácio
l .5-2.17 Andem na Luz
2.18-3.24 Creiam em Jesus
4.1-5.12 Amem a Deus
5.13-21 Epílogo

Eis aqui um esboço de 2 João:
I.1-3 Introdução
A. Destinatários
B. Saudações
II. 4-11 Instrução
A. Pedido e Ordem
1. Elogio
2. Exortação
B. Advertência
1. Descrição e admoestação
2. Instrução
3. Proibição
III. 12,13 Conclusão

E, por fim, um esboço de 3 João:
I. 1-2 Introdução
A. Destinatários
B. Votos
II. 3-8 Tributo a Gaio
A. Motivo de Alegria
B. Um Relato Agradável
1. Fidelidade e amor
2. Mostrem hospitalidade
III. 9,10 Diótrefes é Reprovado
A. Uma Carta Rejeitada
B. A Advertência de João
IV. 11,12 Exortação e Recomendação
V. 13-14 Conclusão

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